Beija-Flor é a campeã do carnaval do Rio de Janeiro


Beija-Flor veio para chocar com um desfile de tom político e conquistou o título deste ano do Grupo Especial do Carnaval do Rio nesta quarta-feira (14).A agremiação de Nilópolis fez sucesso com o público, que seguiu cantando o samba após o fim do desfile e chegou a receber até aplausos de um grupo de jurados, com um enredo que teceu críticas à corrupção no Brasil. A disputa foi ponto a ponto, com a escola de Nilópolis batendo por um décimo a Paraiso do Tuiuti, que fez um desfile com duras críticas ao governo federal. Com o título, a Beija-Flor repete feito de 2003, quando fez um Carnaval em homenagem ao então presidente Lula, que acabara de assumir. Foi o último desfile de tom político no Rio. A passagem da escola pela Marquês de Sapucaí foi um desfile-manifesto. Um dos carros, que teve como tema o "caos social" no Brasil, apresentou a estátua de um pedinte bêbado e presidiários com telefones celulares. O que mais chamou a atenção no Carnaval deste ano na Sapucaí foi a quantidade e a veemência de críticas sociais apresentadas pela escola.
A começar pela Beija-Flor, que, nas palavras do pesquisador de Carnaval Fabio Fabato, colocou na avenida um desfile na linha "contra tudo o que está aí". Havia fantasias criticando impostos altos, uma alegoria representando a Petrobras, ratos em referência a políticos e encenações da rotina de violência no Rio, com representações de crianças em caixões e mães chorando por seus filhos policiais mortos. Já a pequena escola Paraíso do Tuiuti, que só entrou para o Grupo Especial em 2017, lembrou os 130 anos da Lei Áurea (1888), questionando se a escravidão foi, de fato, extinta no Brasil. A comissão de frente, talvez a mais marcante do Carnaval, trazia uma coreografia de escravos amordaçados trazidos da África se transformando em pretos-velhos. O último carro do desfile trouxe um destaque fantasiado do presidente Michel Temer (MDB) como "vampiro neoliberalista". A ala Manifestoches tinha componentes fantasiados de patos, sugerindo que manifestantes foram fantoches em protestos políticos. Outra ala lembrava do trabalho informal, numa referência explícita à reforma trabalhista.