No estudo, 5.300 adolescentes e mulheres jovens em Uganda e na África do Sul receberam duas injeções anuais (uma a cada seis meses) de lenacapavir. O resultado do ensaio clínico foi surpreendente: não foi verificada nenhuma infecção por HIV no período estudado.Um segundo estudo, também conduzido pela Gilead em seis países, incluindo o Brasil, em homens que fazem sexo com homens, em pessoas transgêneros e naqueles que usam drogas injetáveis, teve eficácia similar, de 99,9%. Cientistas e autoridades médicas esperam que a droga, que ainda não foi autorizada para uso, represente um passo a mais em direção à eliminação de HIV/Aids no mundo.
A publicação científica destacou a descoberta em um editorial publicado nesta quinta-feira (12). No último dia 1º, quando é comemorado o dia Mundial de Combate à Aids, a agência da ONU (Nações Unidas) para Aids (Unaids) divulgou um relatório que aponta que 2023 registrou o menor número de novos casos de HIV desde 1990, com 1,3 milhão. Em 1990, este número estava em 2,5 milhões -o pico foi registrado em 1995, com 3,3 milhões novas infecções.
Para a Science, a nova droga pode ser "um vislumbre do que seria a melhor alternativa de proteção" ao atingir a eficácia de prevenção por seis meses a cada aplicação, especialmente em países com barreiras de acesso aos tratamentos e com o estigma carregado por portar o HIV."Acho que é um avanço extraordinário, e a gente tem nas mãos agora elementos cada vez mais potentes para controle da pandemia de HIV/Aids", disse o infectologista e diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, que comentou o editorial a pedido da reportagem. "E, pensando em populações vulneráveis, cuja adesão ao tratamento é em geral menor, fazer um protocolo de injeção duas vezes ao ano pode ser muito melhor", diz.
Mas não é só o poder de prevenção da droga que fez com que a revista a considerasse a principal descoberta científica de 2024. Ainda segundo o editorial, o sucesso da droga surgiu de uma inovação de pesquisa ao detectar um novo alvo de ação para o medicamento, o capsídeo, uma estrutura molecular que envolve o material genético do vírus dentro de uma cápsula proteica.O HIV é conhecido por se recombinar e conseguir escapar assim do sistema imunológico dos hospedeiros, fugindo também da ação de drogas e anticorpos.
Em agosto, a Gilead Sciences anunciou 120 países onde será feita a transferência de tecnologia para produção de uma versão genérica do lenacapavir, mas países com um alto contingente de pacientes com HIV, como o Brasil, foram deixados de fora.Bahia Notìcias
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