Park Moon-sung
é o mais famoso narrador de futebol na televisão sul-coreana. É a voz das
transmissões da Copa do Mundo no país. O Galvão Bueno da Coreia do Sul.
Em algum
momento do primeiro tempo da partida desta segunda-feira (5), entre a seleção
asiática e a do Brasil, ele deve ter dito à sua audiência que “virou passeio”.
Em coreano, claro.
Com 45 minutos
de gala e a volta de Neymar, o Brasil atropelou a Coreia do Sul, goleou-a por 4
a 1 e obteve, com facilidade, a vaga nas quartas de final da Copa do Mundo do
Qatar. Na próxima sexta-feira (9), enfrenta a Croácia, no estádio Cidade da
Educação, para ir à semifinal e ter um potencial confronto com a Argentina.
A atuação
impressionante do Brasil ofuscou até mesmo a esperada volta de Neymar, ausente
diante de Suíç e Camarões por lesão. Ele fez o seu gol, o segundo, de pênalti,
ao deixar o goleiro Kim Seung-Gyu de joelhos. Houve o lance em que cercado por
dois sul-coreanos e atrapalhado pelo árbitro francês Clement Turpín, deu um
drible que deixou todos para trás. Inclusive o juiz.
Para quem
ficou com medo do que poderia acontecer com a seleção após a derrota com os
reservas diante de Camatões, na última rodada da fase de grupos, a goleada
desta segunda-feira foi uma catarse. Um misto de objetividade, frieza e fantasia
do futebol brasileiro, representada em sua síntese pelo terceiro gol, aos 28,
quando Richarlison iniciou o lance com embaixadinhas e concluiu para a rede
após troca de passes entre Casemiro, Marquinhos e Thiago Silva.
Os atletas do
banco de reservas chamaram o camisa 9 para celebrar com Tite, que imitou um
pombo, apelido do atacante.
“E lá vem eles
de novo! Olha que absurdo!”, foi a frase que poderia ter disparado o narrador
sul-coreano, atônito como Galvão Bueno há oito anos no Mineirão.
Ficou pior
porque Lucas Paquetá faria o quarto aos 36.
O Brasil criou
oportunidades após o intervalo, mas desacelerou porque sabia que a vitória
estava garantida. Raphinha, o nome do ataque titular mais necessitado de um gol
para ganhar confiança, teve grande chance, mas a desperdiçou.
Quando saiu
para o jogo, mesmo de uma maneira mais desinteressada, a seleção ameaçou. Em
parte, também pela insistência da Coreia do Sul em atacar. E quando ia à
frente, o time verde e amarelo chegava com facilidade, o que deixaria o narrador
asiático contrariado:
“Chegam,
repito, como se fosse um treino”.
Nem tanto,
porque Paik Seung-Ho acertou um belo chute de fora da área aos 32 para diminuir
a vantagem brasileira e castigá-la pela diminuição do ritmo avassalador da
etapa inicial.
Preocupado com
lesões e condições físicas dos seus jogadores, Tite já havia começado a fazer
mudanças para preservar os titulares. Recuperado de lesão no tornozelo, Danilo
deu lugar a Bremer. Daniel Alves foi para a vaga de Militão. Neymar continuou
em campo até os 35, como que para provar estar 100% recuperado de problema
também no tornozelo.
A partida
estava tão definida que, com 10 minutos para o final do tempo regulamentar, o
treinador trocou de goleiros. Weverton, o único dos 26 convocados que não havia
ainda entrado em campo no Mundial, ocupou o lugar de Alisson.
Apesar de a
Coreia insistir em atacar, o confronto já havia há tempos ganhado jeito de
amistoso. Em seus melhores 45 minutos de Copa do Mundo desde o segundo tempo da
vitória também por 4 a 1 sobre o Japão, em 2006, na Alemanha, o Brasil passeou
em Doha.
Como Park
Moon-sung deve ter constatado na transmissão para a TV coreana, era “uma grande
seleção contra um time de meninos.”
Alex Sabino, Folhapress
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