Quando a bola
subiu ao ar aos 28 do segundo tempo, Richarlison já sabia o que fazer e começou
a ajeitar o corpo. Décimos de segundo mais tarde, ele protagonizaria o mais
belo gol já marcado pela seleção brasileira em uma estreia de Copa do Mundo.
O atacante
acertou um voleio 11 minutos depois de ter aberto o placar em lance de
oportunismo, ao aproveitar rebote na área. Por causa dele, o Brasil derrotou a
Sérvia por 2 a 0 nesta quinta-feira (24), no estádio de Lusail, no Qatar.
A partir do
momento em que o camisa 9 colocou o Brasil na frente no placar, uma partida
complicada se transformou em um massacre. Serviu para contrariar o histórico
recente.
A última vez
que a seleção havia tido um primeiro jogo sossegado no torneio foi em 1994. O
placar de 2 a 0 sobre a Rússia não mostrou o domínio absoluto que o time de
Carlos Alberto Parreira teve naquela partida. Depois disso, sofreu contra a
Escócia (2 a 1 em 1998), Turquia (2 a 1 com o pênalti inexistente em 2002),
Croácia (1 a 0 em 2006), Coreia do Norte (2 a 1 em 2010), Croácia (3 a 1 em
2014 com pênalti que não houve) e Suíça (empate em 1 a 1 em 2018).
A vitória em
Lusail evitou que o Brasil igualasse o recorde negativo de 1978, quando chegou
a duas estreias consecutivas de Mundial sem vencer.
A seleção
sul-americana criou todas as poucas jogadas de perigo no primeiro tempo. Mas
foram tão escassas e nenhuma clara. A torcida verde e amarela, que começou
empolgada, murchou a partir dos 30 minutos. Apesar das tentativas de atuar em
velocidade pelas pontas, com Vinicius Junior e Raphinha, foi com passes
rasteiros de Thiago Silva e Casemiro, pelo meio do sistema de marcação sérvio,
que a equipe de Tite conseguiu entrar na área.
A dificuldade
de criar aconteceu apesar de o treinador ter feito uma opção mais ofensiva. Lucas
Paquetá foi o escolhido para o meio-campo em vez de Fred. O volante do
Manchester United também sabe sair para o jogo e chegar ao ataque, mas o
jogador do Newcastle (ambos da Inglaterra) tem mais características de ataque.
O plano dos
europeus era conseguir, de alguma forma, fazer a bola chegar a Tadic, o meia
mais habilidoso. Sua função seria fazer o cruzamento par Mitrovic, forte no
jogo aéreo. Isso não aconteceu nenhuma vez na partida.
A Sérvia se
defendeu com tamanha sofreguidão que seu treinador Dragan Stojkovic vibrou com
punhos cerrados quando seus jogadores conseguiram atrapalhar a saída de bola
brasileira.
A ironia é que
o irascível Stojkovic, quando jogador, tenha sido um armador clássico,
cerebral, um dos maiores nomes da antiga Iugoslávia.
As dúvidas que
o Brasil mostrou no primeiro tempo desapareceram após o intervalo. A pressão
imposta aos sérvios esbarrava ora no goleiro Vanja Milinkovic-Savic, ora na
trave, como aconteceu em chute de Alex Sandro.
Apesar do
domínio, havia tensão no ar. Raphinha não se encontrou em campo e acabou
substituído. Neymar teve partida inconstante e saiu machucado de campo. No
banco, cobriu o rosto com a camisa enquanto recebia tratamento no tornozelo
direito.
Richarlison
chegou a preocupar a comissão técnica ao sofrer lesão em partida do Tottenham
no mês passado. Ele disse nunca ter tido preocupações de que não iria para a
Copa. Quando Neymar foi questionado pela postagem de uma foto em que usava
shorts da seleção com seis estrelas, foi o camisa 9 quem saiu em sua defesa.
Era uma referência a um possível hexa no Qatar.
Por causa de
Richarlison a partida se tornou tão fácil que a partir dos 10 minutos finais o
estádio começou a esvaziar. Ninguém via como possível uma reação da Sérvia. A
estreia brasileira com vitória era um fato consumado.
Nem o
artilheiro estava mais em campo, substituído por Gabriel Jesus.
Alex Sabino / Folha de São Paulo
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