A Polícia
Federal levou ao local do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira, 41, e
do jornalista Dom Phillips, 57, um dos suspeitos investigados por suposta
participação no sumiço.
A embarcação
com policiais federais subiu o rio Itaquaí, percorrido por Pereira e Phillips,
pouco antes das 13h (15h no horário de Brasília), no horário de Atalaia do
Norte (AM), a cidade que era o destino da dupla antes do desaparecimento.
O suspeito
estava totalmente coberto, não sendo possível saber se se tratava de Amarildo
Oliveira, o Pelado; seu irmão, Oseney de Oliveira, o Do Santos; ou até mesmo
outro suspeito.
Pelado e Dos
Santos vivem na comunidade São Gabriel, onde moram ribeirinhos que sobrevivem
da pesca e da agricultura tradicional.
As buscas por
vestígios de Pereira e Phillips estão concentradas num trecho um pouco abaixo
da comunidade, entre São Gabriel e a comunidade Cachoeira.
A PF e a
Polícia Civil do Amazonas mantêm sigilo sobre a diligência. Eles não informaram
se o destino dos policiais é a comunidade; se é a área de buscas; e quem é o
suspeito conduzido.
Pereira e
Phillips estão desaparecidos desde o dia 5. Até agora, as equipes de buscas
conseguiram localizar uma mochila, roupas e um documento pessoal do
indigenista.
A Polícia
Civil investiga a suspeita de homicídio qualificado. A investigação aponta, até
agora, a pesca e a caça ilegal na região, e os conflitos decorrentes das
atividades ilegais, como pano de fundo do suposto crime.
De acordo com
o policial civil Alex Perez, que comanda a delegacia em Atalaia do Norte, o
possível crime investigado é o de homicídio qualificado. Duas testemunhas,
segundo Perez, “colocaram” Pelado Dos Santos “no local do suposto crime”.
Os dois estão
com prisão temporária decretada pela Justiça de Atalaia.
A Polícia
Civil do Amazonas realizou na terça (14) buscas na comunidade São Gabriel.
Policiais estiveram na comunidade, que fica às margens do rio Itaquaí, e
vistoriaram casas de moradores. Na operação, foi apreendido um remo. A PF
também disse em nota que alguns cartuchos de arma de fogo foram apreendidos,
mas não especificou onde eles estavam.
No domingo
(12), mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas encontraram uma mochila e
outros pertences pessoais do jornalista e do indigenista. Os objetos estavam
amarrados numa árvore submersa, no rio Itaquaí, o que indica, segundo os
bombeiros, intenção de ocultamento.
Na Polícia
Civil, o entendimento é que a localização dos pertences reforça a hipótese de
que houve um crime.
A motivação
mais provável, dizem investigadores, é o constante conflito entre pescadores
ilegais e lideranças que atuam em defesa do território indígena —o local do
desaparecimento fica a poucos quilômetros da entrada da Terra Indígena Vale do
Javari.
Policiais
também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça
pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice
fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.
Se for
confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso
passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.
Pereira e
Phillips faziam uma viagem pela região próxima ao território indígena, o
segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do
Amazonas.
A região do
desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de
tracajás, principalmente dentro da terra indígena.
Há relatos de
tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por
parte de pescadores ilegais. O cenário de conflitos levou a um reforço da
vigilância empreendida pelos próprios indígenas, a partir de uma iniciativa da
Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).
Pereira é
servidor federal licenciado da Funai e prestava serviço à Univaja. Ele atuava
como um fomentador da vigilância indígena.
Vinicius Sassine, Folhapress
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