Médicos apresentam novo remédio que pode curar hepatites virais

Cura para os pacientes portadores dos seis genótipos da Hepatite C, especialmente o tipo 1, o mais frequente no Brasil. Perspectiva de tratamento para os casos graves com alto grau de fibrose ou cirrose hepática e que estão nas filas de transplante. Esses foram alguns dos resultados dos estudos apresentados na semana passada, durante a realização do Congresso Internacional do Fígado em Londres (e publicados no New England Journal/ abril). A notícia acena com perspectivas muito animadoras para cerca de 160 milhões de pessoas em todo o mundo. O processo de aprovação global da medicação que está na fase clínica, ou seja, em testes com humanos, deve ser iniciado no terceiro trimestre de 2014. De acordo com o pesquisador da Universidade Federal da Bahia e conselheiro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, o médico Raymundo Paraná, as novas medicações apresentadas durante o evento colocam a Hepatite C e B em outro patamar de manejo, possibilitando um controle mais eficiente para os casos mais graves ou para aqueles pacientes que possuem resistência aos tratamentos convencionais, realizados à base da substância conhecida como Interferon. “As hepatites B e C matam mais que a Aids e essa inflamação do fígado é responsável pela maioria dos transplantes realizados no país, infelizmente, a doença não tem tanta visibilidade e ainda não mobilizou a sociedade para combatê-la”, completa o hepatologista.Dados do Ministério da Saúde apontam que o Brasil possui hoje 1,5 milhão de portadores do vírus da hepatite C. Estima-se que a maioria seja adultos entre 45 e 64 anos e que o número de infectados possa chegar a 2,5 milhões, já que muitos não sabem que têm a doença. Hoje, de 5% a 20% dos pacientes crônicos com hepatite C evoluem para cirrose se não tratados.
Desafios:  Para Raymundo Paraná, a Hepatite C é um dos maiores desafios globais de saúde pública, infectando, anualmente, entre 3 milhões e 4 milhões de pessoas e levando a óbito cerca de 350 mil. “A doença é relativamente recente, foi descoberta em 1989, e os sintomas podem demorar cerca de 30 anos para se manifestar, sendo que, quando há a manifestação, a doença já está avançada”, explica. O médico lembra que pessoas que fizeram tatuagem em lugar não credenciado, quem realizou transfusão de sangue antes de 1994, aqueles que fizeram tratamento dentário com práticos, usuários de drogas injetáveis, quem foi tratado com medicamento venoso com seringas de vidro são potenciais portadores da doença, que é transmitida através do sangue contaminado. Merecem cuidados especiais as manicures que lidam com objetos perfurocortantes, daí a necessidade de ter o próprio material para as unhas e não compartilhar alicates, tesouras ou palitos. “Muitos jogadores de futebol dos anos 70 e 80 foram acometidos pela Hepatite C. Na época, achava-se que o problema era o álcool, mas, na verdade, era o vírus transmitido por meio das seringas e de uma substância usada antes dos jogos, chamada Glucoenergan, que funcionava como um suplemento energético e vitamínico”, esclarece o médico. Para ele, esse período preparatório para a Copa do Mundo poderia ser um bom mote para que o assunto voltasse à tona e servisse como campanha de esclarecimento. “É preciso que se esclareça que é possível detectar a presença do vírus com exame de sangue e que a Hepatite C é a única doença viral crônica que pode ser curada, enquanto a B pode ser tratada e permitir boa qualidade de vida ao portador”, completa o pesquisador.

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